A Utopia tem antecedentes – entre os quais é fácil apontar, por exemplo, A República de Platão (expressamente invocada) ou A Cidade de Deus (De civitate Dei) de Santo Agostinho — e teve uma imensa descendência, que chega até aos nossos dias. Na segunda metade do século XIX, William Morris, homem de artes e de letras, publicou as suas próprias “Notícias de Nenhures” (News from Nowhere), um manifesto socialista cujo título remete directamente para o seu ilustre antepassado. Quase todas as “utopias”, de resto, têm sempre tido o seu vezo ‘socialista’ ou ‘comunista’. É de pensar que há uma afinidade natural entre os ideais que espelham e a ideia de os desenhar com régua e esquadro e de os impor, se necessário, com “um safanão a tempo”, ou algo mais — num “reino da virtude” severamente regulado e disciplinado. Na ilha imaginada por More há horas marcadas para tudo, regras sobre a roupa, doses de “cultura” regimentada e obrigatória, etc., naquilo que a muitos de nós parece um verdadeiro pesadelo e não difere muito do que nos mostram com horror as chamadas “utopias negativas” (para que se criou o nome técnico de “distopias”).
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