Parece simples. Chega-se a um lugar, Sousel no Alentejo, monta-se uma festa e pede-se às pessoas para falarem de amor e todas as barreiras podem ser superadas. É assim em Rifar O Meu Coraçã0, de Mónica Calle e da Casa Conveniente.
Sim. Muros há muitos. Sempre houve. Sempre haverá. Há-os para todos os gostos. Um estudo do geógrafo Michel Foucher, autor de L’Obsession des Frontières (2009), concluiu que existe um total de 18000km de barreiras intransponíveis no globo fabricadas pelo homem. Isto sem contabilizarmos os muros naturais - o que é o Mediterrâneo senão um muro em cuja travessia perdem a vida centenas de pessoas todos os anos? - e os mentais. E estes são talvez os piores, incrustados em cabeças mais duras que betão.
De muros, e de os questionar, percebe Mónica Calle, 50 anos, actriz e encenadora da companhia Casa Conveniente / Zona Não Vigiada, actuando nos interstícios onde se problematizam fronteiras entre palco e plateia, teatro e vida, estrutura e improviso, centro e margens, ricos e pobres. “As questões essenciais são as mesmas em todo o lado”, afirma, “por isso quando se superam barreiras - ideológicas, religiosas, nacionais ou materiais - o encontro com o outro é possível.”