À partida, certos assuntos parecem nom render boa literatura. Com certeza, temas filológicos, gramaticais ou lingüísticos estariam entre eles. Porém, o português Marco Neves acaba de demonstrar o contrário com a publicaçom do original romance A incrível história da língua portuguesa. O autor é professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e diretor do escritório de traduçom Eurologos em Lisboa, e já tinha publicado um magnífico ensaio com o sugerente título Doze segredos da língua portuguesa.
A incrível história da língua portuguesa, estruturado em 10 capítulos precididos por um prelúdio e divididos por um intervalo, segue a esteira doutros escritores que se atrevêrom a transformar a aridez de gramáticas ou situaçons sócio-lingüísticas em textos leves e divertidos. Foi o caso do galego Joám Manoel Pintos que escreveu A gaita galega no século XIX, no qual alterna prosa e verso para ensinar a ler e escrever a língua galega; ou o brasileiro Monteiro Lobato que ousou desafiar o aborrecimento das regras gramaticais e criou o extraordinário conto de literatura infantil Emília no país da gramática.
No segundo capítulo, o protagonista mergulha numha emocionante missom secreta no reino dos Visigodos. O protagonista percorre territórios do continuum dialetal ibérico até chegar a Toledo ouvindo diferentes “sotaques” e formas do que virám a ser os ibero-romances modernos.
Depois viajaremos por terras mouras, até Al-Uxbuna, e assistiremos à separaçom política do povo galego-português, ao nascimento de Portugal e à construçom do padrom lusitano que “nasceu desse galego eivado de arabismos que se falava nas ruas de Lisboa”. Afinal, como bem afirma o autor, “muito do que faz um país é, mais do que aquilo de que nos lembramos, aquilo que esquecemos… E Portugal, para ser Portugal, esqueceu-se da Galiza”.